Com o tempo, um pouco de paciência e uma pequena ajuda do ginásio, aprendemos que existe sempre uma nova chance, existe sempre um novo sopro que anima o coração, há sempre uma nova vida mesmo aqui ao virar da esquina feita à nossa medida. A ferida está lá, lambida tantas e tantas vezes, agora protegida por novas camadas de pele cicatrizante e um pouco de gordurinha da boa. Não doi nem vai doer para sempre, mas estará para sempre tatuada. Há que aprender também a viver com as nossas cicatrizes.
Quando pela primeira vez doeu cá dentro acreditei que o mundo estava destinado a magoar-me. A magoar-me até mais não. Ralhei, barafustei, gritei alto que não merecia. Lutei (...e caramba, quem engano eu, ainda luto!) contra ventos e tempestades e levei muito a peito a minha ‘derrota’. Achei depois que ficaria sozinha para sempre, que o amor tinha, de vez, deixado a sombreira da minha porta. Pensei mesmo (tonta) que nada nem ninguem se comparava... Mas eu sou um bocadinho pateta. Pronto, vá, eu sou um bocadão pateta. Uma patetíce que provém da minha inocência, que eu lá no fundo sou uma menina da aldeia...tenho o desconto.
Com o tempo, assim como quando sepultamos alguém de quem gostamos muito, a dor acalma, torna-se mais leve, falamos já dela com um sorriso malandro e auto-julgamos a nossa parvoeira... a tatuagem continua lá, defenida por debaixo das camadas de auto-estima com que a cobrimos, mas aprendemos que somos feitos e programados de antemão com a capacidade única de nos reciclármos a cada novo amor; ganhamos de novo estofo, coragem e entusiásmo quando na sombreira da porta aparece uma nova sombra. E é aí que perdemos de novo a auto-estima e nos tornamos nas outra vez nas maiores patetas de sempre, acreditamos de novo.