Já passaram 5 dias e ainda estou em choque. Bom demais para ter sido verdade;
A Mariza entrou no palco do Royal Albert Hall ás 7 e meia, cedo e a tempo cumprindo os costumes britânicos. Acompanhava-a Jaques Morelenbaum, brazileiro, produtor do seu ultimo álbum (transparente). Depois de ter ganho o prémio World Music da BBC, em 2003, a Mariza tem sido convidada regular nas principais salas de Londres, como o Barbican Centre e o Royal Festival Hall, com concertos que têem acabado sempre esgotados nas bilheteiras. No entanto, nem em Barbican, um espaço para 1900 pessoas, nem o Royal Festival Hall, aonde cabem quase 2800, se podem comparar, em dimensão e importância ao Royal Albert Hall, só comparável ao Carnegie Hall em NY. Nenhum outro Português actuou antes sozinho neste recinto, para quase 6000 pessoas, normalmente reservado a conhecidos artistas anglo-saxónicos.
A imprensa britânica deu um enorme destaque ao percurso da Mariza, com várias críticas positivas aos seus discos e muitos elogios ao seu estilo em palco. Chamam-lhe "the singer fashionist". O semanário Observer dedicou-lhe há dois fins-de-semana uma longa reportagem garantindo que este concerto "vai marcar a sua ascensão oficial ao estrelato internacional". O The Independent dedicou-lhe um artigo de duas páginas carregado de elogios é resumido pelo título "Perfeição Portuguesa", o The Guardian pergunta se estamos prontos para partir o coração. Também a revista Time Out, o vespertino Evening Standard e o gratuito Metro aconselharam o concerto nas respectivas agendas culturais como destaque do mês de Novembro. Enfim, estão deslumbrados…
Tal como eu fiquei durante 3 horas e meia na quarta feira passada quando a Mariza entrou em palco. Acompanhada pelos músicos Luís Guerreiro (guitarra portuguesa), António Neto (viola), Vasco de Sousa (viola-baixo) e João Pedro Ruela (percussão) confessava-nos;
«Lembro-me de passar à frente deste fabuloso local e pensar que um dia gostava de vir aqui ver um concerto. Nunca pensei que viria aqui dar um concerto», agradecia-nos por fazer-mos parte do sonho dela.
Eu agradecia em silencio por ter direito a entrada naquele sonho.
A primeira parte passava rápido embalada pelo “Barco Negro”, numa evocação a Amália, e pela “Recusa”. Carlos do Carmo, que entrou em palco logo na primeira parte, conseguiu cativar o público ao insistir que os ingleses presentes na sala poderiam pronunciar português correctamente e cantar «Lisboa menina e moça, como se fossem portugueses». Tendo em conta que pelo menos 60% da audiência era portuguesa convenhamos que os "Ingleses" até fizeram boa figura...
A segunda parte traz-nos Tito Paris, que nos revisita Cabo verde com um “sôdade”, invocando Cesária Évora. Está fechado o triângulo da lusofonia com a voz de África.
Mais para a frente é tempo de um dueto com Rui Veloso, um “Porto sentido”, bem sentido, que resultou mesmo muito bem, gostei.
Depois vieram a “Feira de Castro” e um “oiça lá ó senhor vinho” que animaram toda a malta. E a Mariza dançava folclore no palco.
Mas o momento alto do espetáculo ainda estava para vir. Sem microfone e em conjunto com os guitarristas cantou “á Portuguesa”, servindo-se da aústica do Albert Hall no meio do povo, como ela dizia, “da gente da minha terra”. O silêncio para a ouvir era de morte, como deve ser quando se canta o fado.
Ela cantou, dançou e encantou uma plateia de gente “da terra dela” esfomeada por um pouco de Portugal, delirante com uma prestação genuína.
Um espetáculo que re-via vinte vezes, do qual comprava o DVD e via outras vinte. Sem enjoar.
2 comments:
Foi bom, não foi? :)
Eu vi a reportagem cá e pensei "como eu queria ter estado ali..." ! ainda bem que foi inesquecivel!
Post a Comment