Friday, February 20, 2009

Choque cultural

-Quando cá cheguei pela primeira vez tinha visto demasiados filmes de hollywood. Tinha imaginado casas grandes, brancas e marmorizadas. Tinha visto piscinas, tinha dançado ao som de demasiados video-clips. Tinha montada na minha cabeça a minha “vida de oportunidades”, tinha falado com a minha mãe ao telefone e ela tinha-me prometido uma casa em Londres. Uma casa em Londres!! Meu Deus, que bem que me soava...Eu, vindo da Serra Leoa, em Londres. Lembro-me de com 18 anos vir no avião cheio de sonhos. Vinha cheio de vida, grávido de vida! E sim, sentia-me grande.
Quando aterrei em Gatwick, e o meu tio me foi buscar, tive a primeira decepção. Acolheram-me num mazda castanho. ‘Um mazda castanho?’- pensei. Mas mazdas ainda existem em Londres? Castanho? Em África qualquer carro de cor pouco defenida é carro que não presta. Esperava um carro vermelho, amarelo, enorme com tejadinho e umas rodas de camião. Enfim...
A caminho de casa pela janela vislumbrava a cidade. De Gatwick a East dulwich não avistamos Canary Warf, nem passamos pelo Big Ben, como sabes...quando muito vês uma ou outra fábrica grande e uma megastore. Aonde ficava a ‘grande Londres’? Á minha frente apareciam filas de casas escuras, definhadas, iguais umas ás outras. Labirinto.
‘-Quanto tempo falta para chegarmos?’- perguntei. ‘Cinco minutos’- disseram-me. ‘Cinco minutos?!’- pensei....Cinco minutos por ali não soava bem... nada bem....aquelas casas iguais confundiam-me, sabia que me iria perder ali muitas vezes...
‘-É aqui!’- dizia o meu tio abrandando – ‘É esta a casa!’
Não disse nada, mas no meu silêncio mordi os lábios e controlei a vontade de chorar que errompeu depois, mais tarde, quando me deitei. Aquela casa, de dois quartos e com um corredor-cozinha era o sonho com o qual eu tinha vivido tanto tempo. O quarto que me era destinado - em que a cama empeçava a porta - era a vida nova que me esperava. Era ali que iria passar os proximos tempos.
Naquela noite, acredita, chorei como nunca tinha chorado e como nunca mais voltei a chorar. Senti-me desfraudado, despedaçado no meu sonho de menino.
(...)
- Lá de longe, em Londres, somos todos ricos. Somos todos os maiores, vestimos Prada e Valentino, temos todos iphones e somos todos bonitos. Bonitos disse eu? Desculpa, perfeitos. Mamas redondinhas e abdominais defenidos, não existe racismo, e temos todos uma conta bancária do tamanho do mundo vezes o infinito. É tudo uma maravilha e Deus é injusto porque so lhes conferiu – a eles – uma casa com 5 quartos e espaço para gritar e esbracejar ...

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