Friday, July 14, 2006

descarregando baterias

Pronto, finalmente acabou. Acho que pela primeira vez desde que aqui cheguei esta semana ansiei ansiosamente pela sexta-feira. Tudo não poderia ter corrido pior. Na segunda-feira acordei com uma dor de cabeça que eu nem sabia ser possível existir. Tivemos reunião e eu só ouvia pum, pum…um latejar irritante e que desconcentra qualquer um…ás tantas só oiço Sónia?... (silêncio) Estás bem? Estamos a falar contigo… Terça-feira a dose repetiu-se. Agravada com uma rouquidão imensa, uma dor dentro da face, junto ao nariz, e articulações dolorosas. A gripe a bater á porta.

Cientista que é cientista não acredita na ciência. Ou melhor, até acredita mas sabe, e bem, que a ciência está longe de ser a fórmula mágica que cura todos os problemas sem deixar nenhuns. Eu tenho vindo a descobrir ao longo do tempo que a forma como a ciência interage com a nossa vida é muito mais complexa do que aquilo que parece. Sabem aquela expressão de que o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode desencadear uma tempestade em NY? A teoria é a mesma, quantos genes predispostos a tantas coisas poderemos activar com certos fármacos? Quantos? Às vezes penso para mim própria que sabemos ainda tão pouco da forma como o nosso corpo reage ao que consideramos “cura” que muitas vezes é bem melhor seguir Darwin pela teoria da selecção natural e deixar simplesmente que o organismo retome e encontre por si mesmo a flora ideal. Foi isso mesmo que eu fiz, deixei-me levar pela natureza, bebendo chás e esperando, enfim, combater o vírus sozinha, sem ajuda de aditivos ou camaleada de efeitos placebo. Enfim, deixem-me divagar mais um pouco só para vos falar de um projecto interessante que temos estado a desenvolver lá no meu departamento. Muito recentemente descobrimos (não a minha equipa, mas uma equipa homóloga á minha) que um determinado tipo de cancro da mama, pré-disposto por um determinado gene sendo maligno é auto-suficiente para se aniquilar. Ou seja, que o tratamento além de se tornar infrutífero prejudica o paciente porque o deixa muito mais vulnerável a outro tipo de doenças e á proliferação do “bichinho”. Conclusão, muitos médicos têm estado redondamente enganados quando ao primeiro sinal de cancro mamário maligno partem para a extracção.

Mas deixando as ciências, impressionantes as coisas que descobri sobre mim própria numa semana que passei com esta voz esganiçada de galinha mal morta. Primeiro descobri que não consigo viver sem comunicar. Que entro no hospital e cumprimento toda a gente, que toda a gente mete conversa comigo. Descobri que conheço muito mais gente que eu imaginava ser possível, que falo dez vezes mais do que aquilo que pensava. Descobri que em ciência comunica-se imenso, descobri que adoro discutir os meus resultados com os outros, e discutir os resultados deles também. Descobri que canto todas as manhãs enquanto me visto sem dar conta e que sou incapaz de não falar a quem quer que seja. Em suma, descobri que sou uma tagarela, uma peixeira de primeira que nunca pensei que fosse, que faço um esforço enorme para estar calada, que detesto ouvir monólogos. Meu deus, será isto totalmente verdade?

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